Por Juarez Cruz
Hoje, dia 20 de novembro, é comemorado o “Dia da Consciência Negra” e parece que por pura coincidência, por um acaso ou simplesmente porque vem acontecendo com tanta frequência, na véspera desse dia um homem preto foi morto barbaramente, violentamente dentro de uma rede supermercado da Zona Norte da capital gaúcha por dois seguranças brancos. Violências como esta não é a primeira vez que acontece e está virando uma constante e com brutalidade inimaginável, cometidas por agentes de empresas de segurança, geralmente pretos, racistas, despreparados e violentos ou por policiais militares, igualmente violentos, que fazem bicos nestes estabelecimentos e tratam os pretos com a mesma violência que os tratam nas ruas das grandes cidades.
João Alberto Silveira Freitas não é o primeiro e nem será o último a ser assassinado dentro de um supermercado, de um shopping, dentro de um restaurante, dentro de um banco ou dentro de uma loja. Homens pretos e pobres são agredidos a toda hora, todos os dias diante uma sociedade perplexa, assustada e atemorizada das violências cometidas pela criminalidade, por agentes dos setores privados ou públicos ou por parte da sociedade branca racista, excludente que não consegue viver ao lado de pessoas só por causa da cor de sua pele.
Não vou aqui elencar os motivos que levam uma sociedade se comportar dessa forma até porque eles são vários, bastantes discutíveis e de difícil conciliação. Mas vou comentar uma fala do vice-presidente da República Hamilton Mourão (PRTB) que disse em bom som, quando lhe foi perguntado se este foi um crime por motivações raciais ele respondeu: “Não porque no Brasil não existe isso, não tem racismo, isso é uma coisa que querem importar para o Brasil”. Porque não te calas, Mourão, o senhor é o vice-presidente de um país que tem uma população majoritariamente negra e que é discriminada “terrivelmente” todos os dias.
Mourão perdeu uma boa oportunidade de ficar calado, deveria fazer o que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez, não disse nada, se calou e se portou como se nada tivesse acontecido no país que ele governa e que ele se omite ou nega tudo que não soa bem aos seus ouvidos, aos seus interesses pessoal ou familiar.
Num país de maioria preta a relação de poder, de ocupação dos espaços sociais, econômicos e políticos deveria ser diferente. O negro deveria ocupar melhor estes espaços e ter maior participação na estrutura de governo em todas as esferas, mas não o faz porque uma minoria branca os escraviza, os mantem na ignorância, fora de boas escolas, dos bons empregos e da estrutura governamental e só lhes dão as migalhas, um cala boca como recompensa a espera que votem neles nas próximas eleições para que possam continuar no controle. Um exemplo claro dessa exclusão na esfera do poder vem do governo Bolsonaro, onde não vemos um negro à frente de uma pasta ministerial e possivelmente no segundo escalão do governo; assim como não vemos em alguns governos estaduais e municipais, principalmente das grandes capitais.
Na última segunda feira, durante uma entrevista, o prefeito eleito de Salvador Bruno Reis (DEM), quando uma entrevistadora de um programa de TV local perguntou se um negro poderia ocupar uma secretária ou cargo de relevância no seu governo, haja vista termos uma população majoritariamente negra e que voltou para sua eleição, ele conversou, conversou e não respondeu positivamente á pergunta, saiu pela tangente e desconversou. Bruno deixou claro que esta parcela da população não fará parte de seu núcleo de governo, assim como o fez seu mentor político, o atual prefeito ACM Neto (DEM), que não tem um preto compondo seu secretariado no seu governo. Os negros soteropolitanos só servem e só são importantes para suas eleições e reeleições para que possam se manter no poder e no controle dele.
È assim que a banda toca há muitos séculos no nosso país, no nosso sistema social, político e parece que estamos longe de ver a mudança tão almejada acontecer e podermos viver numa sociedade mais igualitária, justa, onde a participação do negro na sociedade seja mais ativa e menos excludente, com pretos e brancos votando e participando da divisão do bolo, da administração municipal, estadual ou federal de forma mais igualitária, sem que mulheres e homens pretos como o gaúcho João Alberto, não tenham que ser espancados até a morte por agentes do Estado ou de instituições privadas (empresas de segurança) só porque são pretos. Temos que dizer chega, darmos um basta ao racismo que Mourão não consegue enxergar (por que ele sofre de miopia racial) e acabar com o extermínio de pretos em nosso País!
E para não dizer que não falei de flores, ponto para a rede Globo de Televisão que ao longo dos últimos anos vem dando chances aos negros nas tele novelas, tele jornais e outras programações da emissora, como “Falas Negras”, apresentado hoje ás 23horas, dirigida por um negro e dos mais competentes da teledramaturgia e de nossa literatura: Lázaro Ramos.
E tenho dito!
Juarez Cruz (Escritor e Cronista)
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