Finalizado o pleito eleitoral, vale a pena analisar como ficará a situação representativa dos policiais nas câmaras de vereadores, uma via de afirmação do discurso policial na política e de articulação das bases para futuros pleitos eleitorais, principalmente em 2022, quando serão eleitos presidente, senadores, deputados federais e estaduais em todo o país, vale frisar, instâncias em que se situam os profissionais de segurança pública. Diversas cidades brasileiras escolheram policiais como representantes nas Câmaras Municipais; em algumas elegeram Prefeitos e Vice-Prefeitos oriundos das forças policiais, ponto positivo para as cidades.
Ter um policial como participante na política representativa, ainda que na esfera municipal, é uma forma das corporações terem uma voz no cenário político credenciada pelo poder do voto popular. Nas Câmaras Municipais o policial deve servir como ponte das demandas da categoria com a assembleia legislativa. Quando o candidato tem o respaldo da categoria o sucesso no pleito é garantido, pois conta com o apoio da coletividade.
Na Bahia, o desempenho dos candidatos oriundos das organizações policiais, pela primeira vez em sua história, não foi dos melhores. O PT lançou a policial militar Major Denice Santiago para disputar a eleição majoritária em Salvador, e também outro ex-policial, o irreverente e polêmico Deputado Federal (AVANTE) Sargento Isidório, que já foi filiado ao PT. No material de campanha da Major, o PT fez questão de frisar a carreira militar da candidata. No jingle da campanha, “Major Denice na Missão”, há menções à “ronda na rua” e “ela dá carinho, mas bota na linha”.
Para uma primeira candidatura o resultado pode ser considerado satisfatório, uma vez que alcançou o segundo lugar com 18.86% (228.942) dos votos válidos.
Para a Câmara Municipal de Salvador, havia a expectativa de melhor desempenho dos candidatos egressos das organizações policiais, o que não ocorreu. Em algumas cidades do interior o número de policiais eleitos foi irrisório, a exemplo de Feira de Santana que elegeu o Perito Técnico Emerson Minho (DC) e o Soldado PM Correia Zezito (PATRIOTA), este último reeleito para mais um mandato de vereador. Em Vitória da Conquista o Delegado Marcus Vinícius (PODE) e o Sub Tenente PM Muniz (AVANTE) conquistaram uma cadeira na Câmara Municipal.
Já em Mundo Novo, o Delegado de Polícia José Adriano (PSB) foi eleito Prefeito, assim como em Paramirim o Delegado de Polícia Gilberto Brito (PSB), foi reeleito Prefeito.
Depreende-se ao final das eleições recentes a grande insatisfação e frustração dos profissionais da segurança pública com suas lideranças sindicais que se aventuraram no pleito defendendo a causa da segurança, sem sucesso. Enquanto o sindicalismo brasileiro não passar por um processo transformador, na busca incessante por líderes natos que se disponham a lutar pelo trabalhador e defender seus direitos com interesse e dedicação, seremos presas fáceis do velho sistema. Sistema esse, diga-se de passagem, contaminado pelo vírus do fascismo que não mede esforços para atropelar até direitos adquiridos, como vem ocorrendo no Brasil, inclusive em governos que se dizem de esquerda. Que o resultado pífio de 2020 sirva de exemplo para 2022, sem fracionamentos partidários, como ocorreu entre nós. Sem a retomada do verdadeiro sindicalismo seremos inevitavelmente atingidos com perdas de difícil reparação, como foi o caso da nefasta Reforma da Previdência. Resta-nos lutar, reagir e vencer, sempre.
Carlos Nascimento
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